Por Manuela Azevedo.
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Admito: quando a escritora Jana Lauxen me pediu para ler com carinho e
dar minha opinião sincera sobre os originais do segundo volume da coletânea
de contos policiais brasileiros Assassinos S/A, que ela organizou com
o escritor Frodo Oliveira, em parceria com a Editora Multifoco, pensei “Ih, lá
vem mais uma coletânea de ficção policial”. Mesmo assim não recusei,
mais por educação do que, de fato, por curiosidade.
E agora, depois de ter lido (ou melhor, devorado ferozmente) os vinte
contos, de diferentes escritores brasileiros, posso afirmar com cem por cento
de convicção: não se trata de mais uma coletânea de ficção policial,
mas d'A Coletânea de ficção policial.
Apesar do sugestivo nome, as histórias que compõem esta coleção não são,
simplesmente, sobre assassinatos, assassinos, vítimas e investigadores. Além da
superficialidade meramente chocante que muitos textos do gênero costumam
proporcionar, os assassinos de Jana Lauxen e Frodo Oliveira imergem
intensamente na sagacidade do crime, em seus motivos (ou na falta deles) e na
mente doentia e arguciosa de seus matadores. A violência não é gratuita; é
elaborada, fidedigna, equitativa, quase sincera. Não encontraremos no segundo
volume desta coleção detetives usando sobretudos e lupas, e nem artimanhas
literárias que buscam apenas assombrar o leitor. Até por que, como sabemos,
chocar é fácil, basta apelar. Mas Jana, Frodo e seus autores não apelam. Eles
entram, sem bater na porta nem pedir licença, na mente do matador, e sem
procurar justificar seus crimes e atrocidades, apenas nos apresentam o
assassino por dentro – por dentro, inclusive, de nós mesmos, nobres cidadãos.
Telefonei para Jana e dei minha sentença:
– É fenomenal!
E ela me respondeu:
– Tem mais!
Ela falava das ilustrações.
Assassinos S/A Vol. II não é apenas A Coletânea de contos de ficção
policial. É também A Coletânea de contos de ficção policial ilustrada. E digo
mais: divinamente ilustrada.
Jana escalou uma baita seleção de ilustradores, como Mario Cau, responsável
pela sensacional capa da edição, Jota Fox, M. Waechter, Rodrigo Molina, Giovana
Medeiros, Emerson Wiscow e Daniel Faccio.
Por isso, caros leitores, se posso oferecer um singelo, porém sincero,
conselho, digo-lhes: dêem uma chance para esta que é A Coletânea de contos
policiais brasileiros ilustrada. Permitam que Jana Lauxen, Frodo
Oliveira e sua trupe entrem em suas cabeças também, e os levem a conhecer a
sociedade secreta de seus assassinos, e de seus crimes (im)perfeitos, acidentais,
elaborados, premeditados, ocasionais. Contudo não se assustem com o que
encontrarão ali, dentro do livro.
Conforme descreveu a própria Jana na apresentação da edição, estamos todos
“ingenuamente protegidos pelas páginas impressas, que separam a ficção da
realidade”. Além do que, como disse Hassan Sabbah, fundador da Ordem dos
Assassinos, seita ismaelita que, entre o final do século XI e a metade do XIII,
trouxe terror e pânico para a região do Oriente Médio: “nada é verdade”. Logo, tudo
é permitido.