Por Jana Lauxen.
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Cada escolha
que fazemos implica a renúncia de outras centenas de opções.
Cada vez que
decidimos dar um passo, seja para frente, para o lado ou para trás, abrimos mão
de descobrir o que teria acontecido, caso nossa escolha houvesse sido outra.
Deixamos de
viver muitas vidas por que só conseguimos viver uma de cada vez.
E enquanto uma
vida vai sendo vivida, outras vão sendo esquecidas, não vividas, não sabidas.
Outras vidas
vão sendo deixadas para trás, sem que tenhamos a chance de recuperá-las um dia.
É muita vida
por minuto.
A vida que
não vivi, livro de estreia do escritor gaúcho Beto Canales,
é sobre vidas - vividas e não vividas.
Vidas
assumidas e vidas escondidas, vidas boas e vidas ruins, vidas santas e vidas
profanas, vidas limpas e vidas sujas.
São 18 contos
que retratam com minúcia e certo despudor a existência de vidas paralelas à
nossa; vidas tão cruelmente verdadeiras que te obrigam a suspirar e retomar o
fôlego ante cada história que se inicia.
Beto fala da
vida dos pensamentos frios e impassíveis da família de um defunto que parece
sorrir no caixão. Da vida entrelaçada de um favelado, um padre e um ateu. Da
vida que permeia uma decisão de justiça equivocada, e da vida perversa de um
político e seu subordinado com nome cachorro.
Fala também da
vida da prostituta que não está a venda; da vida que revira os anseios de um
grupo de ribeirinhas, e da vida de um garoto e o reencontro com seu torturador,
que estava agora 'velho, cego, surdo, casado com uma pessoa deformada pela
gordura e com um filho ladrão'.
Tem vidas pra
caramba no livro.
E boas
sacadas, daquelas que a gente sublinha com a caneta para poder reler mais
tarde: “os segundos parecem vagões pesados e inertes”, “os meninos,
cabisbaixos, tinham elefantes nas pálpebras”.
E por aí só
vai.
Beto alcançou
a medida exata da narrativa que prende e envolve, sem truques nem ganchos
ordinários, e seus personagens são tão autênticos, e acabam se aproximando
tanto do leitor que, lá pelas tantas, começa até a incomodar.
Segundo o
próprio autor, seu controle sobre a vida de seus personagens é relativa:
- Eles
aparecem do nada e sentam ao meu lado.
O que explica
a legitimidade de suas múltiplas personalidades, semelhantes à de pessoas que
conhecemos, convivemos, quiçá pessoas que vivem dentro de nós.
Vidas que Beto
não viveu, e que eu também não vivi, assim como você, e o João e a Maria.
Vidas não
vividas - pelo menos não publicamente.
E este é
apenas mais um motivo sobre por que eu acho que você deve ler o livro do Beto
Canales.
Para descobrir
o que poderia ter acontecido, se daquela vez você houvesse tomado outra
decisão.