“Então o autor paga cinco, dez mil reais
para ter seu livro impresso, e termina com sua casa atulhada de exemplares,
pois não consegue comercializá-los. Sacanagem, né?”
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Por Alessandra Carvalho.
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Jana Lauxen tem
27 anos, é escritora, autora do livro Uma
Carta por Benjamin, e trabalha no mercado editorial há pelo menos três
anos, seja assessorando novos autores, seja organizando coletâneas de textos
(organizou e co-organizou as coletâneas Assassinos
S/A Vol. I e Vol. II, Crônico!, Literatura Futebol Clube e Quadrinhos
em História, esta última de HQs, em parceria com Sergio Chaves, editor das
premiada revista Café Espacial).
Recentemente,
foi convidada pela Editora Multifoco para comandar a filial sulista da editora
carioca especializada em publicar novos autores.
Em atividade
desde o início de fevereiro deste ano, a Multifoco Sul pretende estreitar
relação com os autores do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.
Morando em Sananduva
– RS, cidade pequenina localizada no norte gaúcho, aos pés de Santa Catarina, Jana
concedeu esta entrevista por telefone, em um dia frio como só é frio no lado
sul do país.
Confira os
principais trechos desta conversa, que tratou de mercado editorial, pagar para
publicar e cães que ladram enquanto a caravana passa.
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A Multifoco Sul já está em atividade?
Sim. Desde o
início de fevereiro começamos a trabalhar junto aos autores do Rio Grande do
Sul, Paraná e Santa Catarina.
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Como funcionará o processo de produção de
livros da Multifoco Sul?
Da mesma maneira
como funciona com a nossa matriz, que fica no Rio. Os autores enviam seu
original para avaliação por e-mail. Estes originais deverão vir completos e
revisados, dentro das novas regras gramaticais, em arquivo Word , fonte
Times, tamanho 12 e espaçamento 1,5, sem imagens.
O prazo para
avaliação de um original é de 7 dias, e todos os autores receberão uma resposta
por parte da editora, tendo sido seus originais aprovados ou não.
Após a aprovação,
o autor assinará um contrato de edição e o livro entrará em processo de
produção – processo este que varia de 30 a 45 dias. Estando o livro pronto,
o autor receberá seus exemplares em
casa. E considero
importante dizer: tudo sem desembolsar um centavo sequer.
Após o
recebimento dos livros, o autor terá 25 dias para comercializá-los, seja entre
amigos e familiares ou através de lançamentos.
Passados estes
25 dias, o autor deverá depositar para a editora o valor alcançado com as
vendas dos livros, ficando, para si, com 20% do preço de capa de cada livro
vendido. É uma porcentagem bastante alta, tendo em vista que grandes editoras
costumam pagar para grandes autores uma porcentagem bem menor, que dificilmente
ultrapassa os 8%.
Se, por acaso, o
autor desejar depositar o valor dos exemplares adquiridos à vista, este
desconto sobe para 30%. E caso o autor precise de mais exemplares, basta
solicitar.
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Qual é a principal diferença entre a
Multifoco e as demais editoras, também especializadas na publicação do novo
autor e que atuam no mercado editorial brasileiro?
Em minha opinião
é a questão do custo. Encontramos muitas editoras que dizem não cobrar nada
para publicar livros de novos autores, mas ou elas oferecem e-books (livros
virtuais), que são publicações que praticamente não possuem custo nenhum, tendo
em vista que os (altos) custos da impressão inexistem, ou pecam gravemente na
qualidade do material impresso.
O que deve ser
custeado é todo o trabalho de capa, diagramação e impressão, mas o autor pode
optar por saldar este valor somente após ter recebido e – sublinhe-se isto – vendido
seus exemplares, ou seja: não precisa de dinheiro, pois o dinheiro será
levantado através da venda dos livros que o autor recebe sem pagar nada.
Outra diferença
é que muitas editoras cobram (e cobram alto, diga-se de passagem) para editar
livros com quinhentos, ou até mil exemplares de tiragem. O que acontece é que o
autor paga cinco, dez mil reais para ter seu livro impresso, e termina com sua
casa atulhada de exemplares, pois não consegue comercializá-los. Considero isso
uma sacanagem, pois muitas editoras abusam do novo autor que, inexperiente, não
sabe que uma tiragem de mil exemplares, no Brasil, é uma tiragem alta. No caso
de um autor novo e ainda desconhecido, uma tiragem altíssima.
Na Multifoco, o
autor pode pedir a tiragem mínima, de 30 livros. Ou seja,
ficar com livros atulhados em casa é praticamente impossível, tendo em vista
que todo mundo tem pelo menos 30 pessoas em seu círculo de relações, seja
amigos, colegas de trabalho, família ou conhecidos.
Considero tudo
isto uma SENHORA diferença na hora de optar qual editora publicará sua obra.
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A Editora Multifoco também comercializa os
exemplares dos autores que publica?
Sim. Os
livros são disponibilizados para venda no site da Editora e em livrarias parceiras
também, como a Cultura e a Travessa. Porém, já tive contato com autores que, antes mesmo de enviarem seus
originais para avaliação, já reclamavam que teriam de vender seu próprio livro.
O que o novo autor precisa entender é que, basicamente, ele é um novo autor, e
seu livro não se comercializará sozinho. Jô Soares não precisa vender os
exemplares do seu livro por que é o Jô Soares, e se vende sozinho – além de
trazer altos lucros para sua editora. O novo autor, não. Ele ainda está
chegando ao mercado editorial brasileiro, e precisa saber que, se não arregaçar
as manguinhas, não conseguirá absolutamente nada.
A Multifoco abre
a porta; agora, só vai passar por ela quem tiver boa vontade e dedicação. Os
outros ficarão para trás.
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A Multifoco tem interesse na publicação de
trabalhos acadêmicos?
Sim, temos muito
interesse. Percebemos que a produção acadêmica brasileira é muito rica, e
concluímos que seria pra lá de interessante tirar estas produções somente do
círculo acadêmico e trazê-las para as estantes de livros de todo o Brasil.
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Transforme
seu blog em livro. Esta é outra proposta da Editora Multifoco. Como
funciona?
O autor que
tiver interesse em ter seu blog submetido à avaliação, para possível publicação
em livro, não só pode como deve entrar em contato conosco. Assim como a
produção acadêmica, existe um material riquíssimo disponível na internet. Se o
conteúdo é bom, por que não publicá-lo, por que não transformá-lo em livro?
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Mas por que alguém compraria um livro cujo
conteúdo está disponível na internet, e de graça?
A quantidade de
blogs e sites no ar, atualmente, é incalculável, e a tarefa de garimpar os
melhores não é nada fácil, além de requerer tempo e paciência. O que acontece é
que muito conteúdo de altíssima qualidade acaba perdido nesta miscelânea, sem
receber a devida valorização. A publicação de blogs em livros funciona quase
como uma peneira. Eu mesma já comprei livros provenientes de blogs, como o do
site O Bairrista, do qual eu sou fã. Considerei
que valia à pena ter aquele conteúdo que eu adoro nas mãos, para ler no
banheiro ou na cama, antes de dormir.
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Qual é a sua avaliação dos novos autores
brasileiros?
Positiva. Com a
internet, as pessoas passaram a ler mais e, naturalmente, passaram a escrever
melhor. Eu já trabalho com a Multifoco há mais de três anos, e é inegável a
melhora significativa do material recebido de lá para cá. Melhorou muito, e
isto é fantástico. As pessoas estão lendo mais através da internet, e todo
mundo sabe que escreve melhor quem lê mais.
A maioria dos
autores também tem plena consciência de que precisa se mexer se, um dia, quiser
que seus livros se vendam sozinhos, mas ainda encontramos aqueles de egos
gordinhos, que só fazem reclamar. Mas estes eu descarto sem dó nem piedade.
É como diz
aquele velho e sábio ditado popular: os cães ladram e a caravana passa.
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E o mercado editorial? Melhorou para o novo
autor?
É como eu disse
acima, hoje todo mundo pode publicar, e isso é excelente, apesar do que dizem
uns e outros. Se vivemos em uma democracia, a arte deve ser para todos, isto é:
todos devem ter, ao menos, uma chance. Há pouco tempo, só publicava quem tinha
muito dinheiro, costas quentes e bons contatos. Hoje não.
Só não
compreendo as pessoas que reclamam disso. Se tem mais gente escrevendo, tem
mais gente lendo, e se tem mais gente lendo, o mundo está caminhando para se
tornar um lugar mais suportável de se viver. Mas é aquela história, os cães
estarão sempre latindo. E a caravana segue.
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Que dica você daria para aquele cara que
está querendo escrever seu primeiro livro?
Ler. Ler muito,
nem que seja bula de remédio e horóscopo.
Dominar as novas
regras gramaticais, mesmo que você as considere uma grande bobagem. Nenhum
escritor pode se dar ao luxo de não conhecer a língua na qual escreve.
E não ter medo
de cortar. Sim, cortar, e cortar muito. O bom escritor é aquele que sabe cortar.
Percebo que muitos autores se apegam aos seus livros e não querem cortar nem
uma vírgula, nem que essa vírgula seja completamente desnecessária. Escrever é a
arte de cortar.
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Os autores que quiserem ter seu original
avaliado pela Editora Multifoco deverão fazer o que?
Eles devem
entrar em contato comigo através do e-mail multifoco.jana@gmail.com, enviando
seu original completo e revisado, dentro das novas regras gramaticais, em arquivo Word , fonte
Times, tamanho 12 e espaçamento 1,5, sem imagens. O prazo para avaliação de um
original é de 7 dias, e todos os autores receberão uma resposta da Editora, tendo sido seus originais aprovados ou não.